Postado em 10/1/2006
Aliviar a Pobreza - O verdadeiro mecanismo de desenvolvimento limpo
Por Eugenio Singer
singer@globalexchange.com.br

É impressionante como a humanidade consegue se esconder atrás dos seus grandes erros.
Bastou a inteligência de Harvard pensar na forma de traduzir a poluição atmosférica em ganhos de derivativos financeiros, que o mundo todo se envolveu na questão de Quioto e do tão falado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Gases de Efeito Estufa! Este trinômio também conhecido pelas letras GHG (Green House Gases) já movimenta bilhões de dólares mundialmente. E esta cifra subirá tranqüilamente aos dois dÃgitos até o fim do Protocolo de Quioto em 2012. Os economistas, atordoados, já começam a pensar no perÃodo pós Quioto, afinal a temperatura da Terra está subindo!
A verdade é que a temperatura da Terra não está somente aumentando face à enorme quantidade de emissões destes gases, gerados pela queima de combustÃveis fósseis, pelas queimadas e desmatamentos, pelos gases emanados dos aterros sanitários ou pela produção extensiva de gado. A temperatura da Terra aumenta significativamente porque não encontramos um mecanismo para aliviar a pobreza. A pobreza, centrada no grande aumento demográfico deve aumentar o calor no planeta de forma muito mais significativa do que as emissões geradas pelos paÃses desenvolvidos. Para verificar esta hipótese basta fazer o teste e calcular o seu impacto sobre o clima. Verão que se todos tivessem o consumo que têm, no mÃnimo, precisarÃamos de 4 Planetas Terra, para absorvê-los
Precisamos reconstruir o modelo criado pelas Nações Unidas e Agências Multilaterais. O mundo mudou demais nos últimos 60 anos e perpetuamos um sistema financeiro arcaico e paquidermal.
É sabido que quase 30% dos empréstimos contraÃdos pelos paÃses membros do sistema financeiro internacional, vai para a corrupção e não atinge o seu devido fim, que seriam os projetos de desenvolvimento e alÃvio da pobreza. Sabe-se também que se muitos paÃses não tivessem contraÃdo dÃvidas com Bancos Regionais ou Mundiais de Desenvolvimento estariam em melhores condições no mundo de hoje, pois pesam sobre eles dois grandes fardos: o da dÃvida e dos respectivos juros e os projetos não desenvolvidos. Todos sabem disto. Só faltam aparecer um Jefferson e dois publicitários para revelar!
Os governos não são mais soluções, ao contrário são "sinks" ou drenos de investimentos.
Talvez o ex-presidente Bill Clinton tenha mesmo razão, ao afirmar que o fenômeno da consolidação das ONG's, seja uma das soluções para o alÃvio da pobreza mundial. Clinton afirma ainda que mesmo em um paÃs com governança pouco efetiva, quando uma rede de ONG's chega, o trabalho delas pode salvar muitas vidas, abrir empresas e promover o desenvolvimento.
Será que toda inteligência acadêmica mundial é incapaz de pensar em um MDL para a aliviar a pobreza? É difÃcil pensar, que ao invés de investir nos paÃses do Anexo I do nÃvel de desenvolvimento, não poderiam investir em paÃses onde cada dólar teria um efeito multiplicador altÃssimo para reduzir a temperatura da terra, aliviando a pobreza? Ou será que os intelectuais pensadores, continuarão fechando seus olhos e pensando que o futuro que lhes caberá será sua exclusão do mundo social e o confinamento para pensar confortavelmente? Será que querem mesmo um mundo virtual, livre das imagens desoladoras que vivemos atualmente?
Se cada um cumprir com a premissa básica da Clinton Global Initiative (CGI): de sair com uma lista de tarefas para aliviar a pobreza, quantos pobres nós conseguiremos transformar? Estas seria a principal meta real do milênio: a capacidade individual de abdicar do consumo e aliviar a pobreza.
A conta parece complexa para as mentes brilhantes, mas pode ser simples e indolor. Bastaria que todas pessoas que voam de avião doassem suas milhas para um projeto de alÃvio da pobreza. Sabe-se que hoje, o valor nominal das milhas, é equivalente ao capital em uso no planeta, ou seja, cerca de U$ 900 bilhões, uma soma suficiente para melhorar a qualidade de vida neste mundo, sem passar pelas agências multilaterais obviamente! Ademais, deixar de usufruir as milhas obtidas não é de todo mal, visto o risco que aviação nos tem imposto. Vale a pena tentar! Quem cria a conta?
Eugenio Singer
Eugenio Singer é empresário e engenheiro ambiental e escreve periodicamente para o Global Exchange sobre ecologia e desenvolvimento de cidades sustentáveis.
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